A Pedagogia do Retrocesso Cognitivo

Não é o aumento de conhecimento que torna o homem inteligente, mas a organização profícua do repertório cognitivo que já possui.



Quando as instituições que se chamam escolas recebem seus alunos, sua primeira preocupação nunca é com a qualidade da cognição que eles terão absorvido ao final do período, mas com o lucro que cada um representa no início. 


Não poderia ser diferente, uma vez que estamos falando de organizações comerciais com fins lucrativos. E tentar mostrar ao público em geral a imagem de uma instituição ou reduto filantrópico e paternalista, cuja missão, por vocação existencial é dar instrução aos seus clientes, isso é a prática eufemística mais comum. 


E quando os pais enviam seus filhos à escola é porque acreditam que serão bem acolhidos, cuidados e orientandos, e o mais importante, que ali irão aprender tudo que for necessário para o viver. Por isso mesmo, em casa, tratam de cuidar de suas próprias carências e objetivos. E o progresso cognitivo e felicidade dos filhos, aparentemente, não faz parte desse pacote de resoluções pessoais. 


Assim, o aluno vai à escola porque é uma tradição, ou uma obrigação social; faz parte de sua qualificação padrão, pois é o mínimo do que irá precisar para teoricamente se tornar independente, e mais tarde, ser capaz de traçar seu próprio caminho. 


Mesmo assim, o jovem não sabe por que freqüenta aquela sala de aula todos os dias, ou o que espera aprender, muito menos o que de fato é importante para si. E na sua cabeça existe apenas uma certeza, de que cumprido aquele ritual, penitência ou peregrinação de vários anos, será bem sucedido na vida pessoal e profissional. Pelo menos é isso que está implícito nas letras miúdas da promessa educacional que se vende, onde está escrito: “Só o estudo é capaz de realizar e edificar o homem...” 


Paradoxalmente, nunca explicam, sequer, o que significa ser gente. E na escola o aluno acredita, assim como seus pais – apesar dessa graça nunca ter batido à sua porta –, que receberão tudo do que irão precisar para se dar bem na vida, embora não saibam sequer o que é a vida.



Do outro lado há o professor, que na maioria das vezes é obrigado a seguir uma pedagogia inútil ou depredadora da boa cognição, protocolos sádicos impostos pelas diretrizes curriculares oficiais. Trata-se de uma receita, onde a maioria dos ingredientes relacionados não serve para feitura daquele bolo. E no final, depois de se gastar muito tempo e dinheiro, o aluno, como parte da regra, ou de uma intencionalidade planejada, sairá daquela instituição mais deseducado e desorientado do que quando entrou. 


Afinal de contas, por tradição ou obrigação, ali se pratica a pedagogia da cognição inversa. Não é por acaso que as escolas não formam cidadãos pensantes e independentes. Parece tratar-se de uma manobra intencional, calculada, planejada durante anos, onde uma minoria que se reserva como autoridade, não tem a menor intenção de explicar para ninguém que o ideal é caminhar de olhos abertos, por conta própria, e não conduzidos por guias, como cegos, ou burros comboiados pelos cabrestos. 


E assim, as escolas se tornaram apenas os meios oficiais e autorizados para disseminarem a prática da cognição invertida. E ali eles aprenderão muitas coisas inúteis, e quase nenhuma útil. Aprenderão que ter dúvidas e pensar por conta própria é coisa proibida; sufocarão suas vocações, e serão convencidos de que a realização de cada um ocorre no momento que se consegue um estável emprego público que, paradoxalmente, trata-se na verdade de um ingresso para um cativeiro do qual nunca mais sairão. 


Falar para um aluno que o esforço pessoal é um quesito imprescindível para que obtenha êxito em suas iniciativas, tem o mesmo peso de um aviso de tragédia. Esclarecer que disciplina não é a técnica de seguir procedimentos e protocolos a exemplo de um robô movido à corda, ou explicar o que vem a ser ordem pessoal, também não acreditamos que tal qualificação faça parte do currículo dos atuais docentes. Desse modo, por onde começar? 


De que serve perguntar ao aluno o que ele deseja aprender, se sequer ele conhece as opções disponíveis, ou quais são suas idiossincrasias e predisposições inatas? De que serve perguntar que profissão ele deseja seguir, se não conhece sua vocação? Seria o mesmo que lhe oferecer um suntuoso palácio sem portas de acesso, ou ainda um par de luvas para alguém desprovido de mãos. 


Mostrar para os alunos quais são as opções disponíveis, tomando o cuidado de esclarecer o que significa cada uma delas, seria o mínino, isso se houvesse decência. Depois ensinar o que é disciplina e ordem – que em nada se assemelha as regras do militarismo –, e o mais importante, por que eles precisam aprender e incorporar esse hábito em suas vidas. 


Deixar que o aluno escolha seu ideal de futuro sem antes conhecer nada sobre si mesmo, tem o mesmo valor que teria uma pedra preciosa para uma galinha faminta. Se ele não sabe ainda o mínimo, como se exigir que inicie sua jornada acadêmica a partir do máximo?

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Diário 5.1 Jimmy Pereira. Pedagogista graduado em bagunça!!
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